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quarta-feira, setembro 20, 2006

Momento de Reflexão

O Pestanas esteve internado de 07 a 18 de Setembro no Serviço de Cirurgia.
Foi o período de internamento mais longo até agora.
Mais uma experiência adquirida.
Não querendo ser sádica, recomendo uma semana destas a todos os pais – Mãe e Pai.
Aprendo, cada vez mais, a lidar com muita coisa ao mesmo tempo. Noites mal dormidas num cadeirão (ou cadeira reclinável nem sempre disponível), uma casa para orientar à distância, uma filha que sente o transtorno ainda que temporário, turnos de presença por organizar, gerir telefonemas, as horas que não passam, os minutos que passam depressa (por vezes estava de cara a cara com o Pai apenas 30m por dia), etc.
Apesar de ser uma tarefa desgastante, não deixa de ser enriquecedora.
Ajuda-me sempre a abrir os olhos e tomar consciência de outras realidades.
Permite-me fazer comparações.
Permite-me travar amizades com outros pais e trocar impressões.
Permite sentir na pele a acção do Governo em relação ao corte nas despesas públicas. É ridículo, mas tenho de o escrever. Nem sempre há papel higiénico na casa-de-banho das mães, nem sempre há um penso rápido para colocar quando se retira um cateter, tendo de ser improvisado com uma compressa de gaze e fita adesiva. Nem sempre os enfermeiros têm o material à mão de que necessitam. Há uma sensação de racionamento constante em relação aos materiais utilizados. Muitas queixas por parte dos profissionais. Eles bem tentam fazer o trabalho deles, mas nem sempre conseguem da melhor forma por causa disto. É triste saber que pago impostos para depois o meu filho e eu sermos tratados assim.
Os dias são sempre iguais. Não há datas. Perco-me no tempo ou o tempo simplesmente pára. Não consigo pensar em mais nada a não ser no melhoramento do meu filho. Por vezes tentava pensar no trabalho que deixei por fazer e como fazê-lo nesta situação (quando não se tem ninguém para nos substituir no local de trabalho, isto torna-se preocupante quando há prazos a cumprir), mas depressa o pensamento fugia-me.
Reparo que há mães que se refugiam no seu canto e ocupam-se apenas do seu filho.
Há outras que falam muito e metem-se com as crianças todas.
Eu prefiro ser mediana.
Há episódios de risota, como a cigana que queria dormir no chão porque a cama não prestava e que depois foi-se embora sem o filho ser operado ao céu da boca porque não queria assinar o termo de responsabilidade.
Ouvi também histórias pessoais de acidentes com perda da mãe, outras com filhos também com problemas. Apercebi-me da quantidade de mães jovens/adolescentes cujos filhos foram operados. Algumas crianças com problemas graves outras mais leves. Umas com recuperação rápida outras mais lenta e dolorosa. Muito choro de noite. Muitas mães também a chorar e a sofrer a dobrar por não poderem pegar no filho para o consolar e ajudar a passar a dor porque ele tinha sido operado recentemente e o repouso era absoluto. Nenhuma mãe apercebe-se desta restrição no dia-a-dia. Nem tão pouco imaginam.
Por isto tudo e muito mais recomendo uma semana destas a todos os pais (sem atingir os filhos, claro).

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